“Muitas mulheres não percebem que estão em um relacionamento abusivo. Às vezes, a mulher não identifica justamente por não ter visibilidade sobre o ciclo de violência doméstica. São três fases: começa em uma violência simbólica, agressividade; depois parte para violência moral, patrimonial, física, psicológica, sexual; e o terceiro ciclo é o que eu acho mais problemático, o da lua-de-mel. O agressor fala que vai mudar, que nunca mais vai fazer isso e a mulher acaba se sentindo culpada por ter tomado alguma providência e fica desmotivada de dar continuidade”.
A partir dessa preocupação com a dificuldade de algumas mulheres em identificar a situação de violência, a delegada alertou para alguns sinais a que as mulheres devem estar alerta em uma relação.
“Ciúmes exagerados, um sentimento de posse, de controle. O ‘onde você vai?’, ‘que horas você vai?’, ‘com quem você vai?’. A conduta que visa degradar, menosprezar a mulher, controlar o seu comportamento, a maneira como se veste, com quem fala. Tudo isso faz parte da violência psicológica, são elementos que a mulher precisa prestar atenção para entender se está ou não em um ciclo de violência e procurar interrompê-lo o mais rápido possível, porque não é o agressor que vai interromper o ciclo, é sempre a vítima. Ela vai ter o papel mais difícil, sempre”.
Assim, a delegada também reforçou que a mulher pode perceber que está nesse ciclo de violência ainda no início ou já depois de alguns anos, mas que é importante buscar ajuda a partir de então.
“Pode ser que ela só tome coragem depois, por dependência emocional, financeira, filhos, casamento, família, até religião. Tudo isso pode ser fator que faça a mulher se manter no ciclo. Mas quando ela percebe e quer sair do ciclo, ela vai ao plantão policial, faz o registro do boletim de ocorrência e já pode pedir medidas protetivas de urgência”.
Entre essas medidas protetivas, que são previstas na Lei Maria da Penha, estão tópicos sobre o agressor, como o afastamento do lar, a proibição de aproximação e de contato com a mulher e o comparecimento a programas de reeducação; mas, também, mecanismos voltados para o suporte à vítima, como o das redes formais de apoio e dos abrigos.
A Delegacia da Mulher de Itapeva fica na Rua Everaldo Nilton Chiavini, nº 173, no bairro Central Park, próximo às concessionárias Toyota Ramires e Fiat Soma. O atendimento ao público é realizado de segunda a sexta-feira (exceto feriados e pontos facultativos), entre as 9h e as 18h. A delegacia também atende pelo telefone (15) 3522-1042.
O trabalho integrado da Delegacia da Mulher
À frente da DDM de Itapeva desde o fim do ano passado, Elizabeth falou sobre o trabalho da delegacia. “A importância da DDM começa no acolhimento das mulheres. É uma delegacia especializada que envolve um grupo vulnerável, podendo também ter uma vulnerabilidade agravada, quando a gente fala da população LBGTQIA+, mulheres trans e travestis. A gente faz um atendimento humanizado para essas mulheres, evitando ao máximo a revitimização. Elas já são obrigadas a falar novamente sobre todos os fatos, mas sempre com cuidado e zelo para que se sintam à vontade, com liberdade para falar”.Assim, ela destacou a delegacia como um primeiro ponto de uma rede de apoio que vai muito além. “O papel da DDM, junto à rede de apoio, é garantir a proteção da mulher. Os números, infelizmente, mostram que estamos tendo um crescimento exponencial nos casos de violência contra a mulher. Isso pode gerar um certo olhar sobre ineficácia da Lei Maria da Penha, mas a lei é eficaz. O problema é a integração, que precisa ser feita na rede de apoio, com o Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), a Procuradoria da Mulher da Câmara, a Polícia Militar, a Guarda Civil Municipal, o Conselho Tutelar”.
Ela concluiu reforçando o papel dessa rede. “Com essa maior integração, a gente consegue dar o apoio que a mulher precisa, porque muitas vezes ela se sente desmotivada por achar que não vai dar em nada e acaba não saindo do ciclo por isso. Então, é importante darmos a visibilidade a esse assunto”.